Chama e Ouve
Não sei o que me
chama mas chama por mim
Acende-se nas noites que
não têm fim
Queima como fogo que arde
sem se ver
Caio de joelhos ainda está
a arder
Não sei o que é
a chama mas queima -me a mim
E depois de tantos anos
Não vou agora mudar
de planos
Eu quero ser apenas o que
posso ver
Há coisas que se
acabam antes de nascer
Não sei o que te
apaga
Acende-me a mim
Não sei porque não
ouves quando chamo por ti
Pergunto-me o que houve
para que seja assim
Vou passando os dias a
dizer que sim
E quase me esqueci do que
uma vez senti
Não sei o que tu
ouves quando chamo por ti
Mas depois de tantos anos
Não vou agora mudar
de planos
Eu quero ser apenas o que
posso ver
Há coisas que se
acabam antes de nascer
Não sei o que te
apaga
Acende-me a mim
Sim ou Não
És como um livro de
páginas molhadas
Por um balde de lágrimas
de convés
Toco desfazes-te nos meus
dedos
E nunca mais vou saber
quem és
Como uma orquestra afina
os instrumentos
Assim me preparo para te
receber
Mas és um navio que
renega os ventos
E continuo a ficar sem
saber
Se sim ou não
Oh não
Ou não
És como um livro de
palavras apagadas
Por um tipo de máquina
de esquecer
Toco desfazes-te dos meus
medos
e não tenho mais
nada a perder
E como uma orquestra
Afina os instrumentos
Assim me preparo
Para te receber
Mas é um navio que
renega os ventos
E continuo a ficar sem
saber
Se sim ou não
Oh não
Ou não
No Meu Caminho
Fiz tudo errado
Depois vi-te nascer
Eu que saía pelas
portas fora
Depois vi-te aparecer
Fiz tudo e mal
Agora vou tentar fazer
melhor
Eu entrava sempre pelas
portas dentro
Depois vi-te acontecer
Fazes-me virar
Insistes comigo
Vou para onde quero
Desde que estejas no meu
caminho
Fiz tudo e mal
Agora vou tentar fazer
melhor
Eu que saía pelas
portas fora
Depois quiz-te viver
Fazes-me virar
Insistes comigo
Vou para onde quero
Desde que estejas no meu
caminho
Falamos ao Longe
Hoje acabou o dia e vamos embora
Agora acabou o dia e vamos
embora
E se amanhã não
nos vamos ver
Hoje não vamos
deixar o sol nascer
Mas falamos ao longe
Falamos ao longe
Hoje acabou o verão
e vamos embora
Agora que acabou o verão
vamos embora
E se amanhã não
nos vamos ver
Hoje não vamos
deixar o sol descer
Mas falamos ao longe
Falamos ao longe
Se o caminho nos separa
Se a casa nos desune
Se o calor nos abandona
Alto para nos ouvirmos
Pernas presas de ficarmos
Unhas de nos agarrarmos
Vozes secas de gritarmos
Alto para nos ouvirmos
Luzia
Escrever um disco a
descrever a minha vida
Como se não me
quisesse afastar dela
Tão difícil
com vê-la reflectida
Olhando os vidros partidos
da memória
Eu já não
tenho mão para conter o juízo
Já não tenho
Mãe para ter vergonha
Deixo crescer a barba a
roer os cabelos
Para já prefiro
sobrevoar os penhascos
Espantando os olhos
tristes nas caravelas
Mas o sol gastou a capa
que Luzia
Incendiou a quinta a carne
e a alegria
E os dias vão
seguindo de seguida
A escrever um disco sobre
a minha vida
Eu já não
tenho mão para conter o juízo
Já não tenho
Mãe para ter vergonha
Deixo crescer a barba a
roer os cabelos
Para já prefiro
sobrevoar os penhascos
Espantando os olhos
tristes nas caravelas
Nada a Dizer
Certo errado o que fazer
Um dia vai-te acontecer
Índios hostis
nomeámos o
acampamento para vocês
Não tenho nada a
dizer
Nada a dizer
Tenho Nada a dizer
Nada a dizer
Não tenho nada a
dizer
Nada a dizer
Tenho Nada a dizer
Nada a dizer
Putos sem mal
Demos aos nossos soldados
um nome igual
Não sejas cabeça
dura
Deus está à
espera de ouvir alguma coisa tua
Podíamos ser nós
a arrastar-nos por aí
Mas essa coisa prefiro que
sejam outras bandas a fazer
Que eu não tenho
nada a dizer
Nada a dizer
Nada a dizer
Nada a dizer
Tenho nada a ceder
Nem razão para
viver
Vou lutar para vencer
Tenho nada a esconder
Timidez para perder
Queria ver
Queria ler
E pertencer
E liderar
Mas não tenho nada
a dizer
Nada a dizer
Nada a dizer
Nada a dizer
Nada a ceder
Nem razão para vencer
Matarei para viver
Tenho nada a esconder
Timidez para perder
O teu namorado
Só vais abrir os
olhos se eu estiver à tua frente
Muitas coisas livres é
para isso que tu vives
Todos os tesouros estou
aqui para tos guardar
Mas não queres
deixar
Que enquanto respiramos é
como se nos beijássemos
que o ar que tu expiras é
o mesmo que me inspira
Dizes muitas coisas belas
, eu acredito nelas
Mas não vais deixar
O teu namorado
As coisas que perdemos vão
ficar à nossa espera
A volta que daremos ser
descrita de quimera
Que estaremos juntos e
passaremos felizes
Sem teres de deixar
Mas o que passou passou e
o tempo não chega
E tudo o que ficou quando
chegar já era
Mundo não acabou
como previa o Maia
Nem tu vais deixar
O teu namorado
Minha namorada
Cidade Escura
Na cidade escura com o céu
cinzento
Há uma figura que
resiste ao vento
Apesar do tempo sem
ninguém na rua
Cheia de silêncio a
cidade escura
É a própria
sombra dessa figura
Cheia de raiva
Calada
Projectando frio
Outra vez outra vez outra
vez
A figura sou eu
Podes vir buscar-me?
Eu fui deixado aqui outra
vez
E perdi a chave
Vens ter comigo?
Se não vieres não
sei ir ter
Contigo
À entrada do café
à espera de atenção
Ninguém ajuda
porque ninguém vê
A menina do balcão
devolve com o olhar
Os solitários à
verdade crua da cidade escura
Que é a própria
sombra dessa figura
Cheia de raiva
Calada
Projectando frio
Outra vez outra vez outra
vez
A figura sou eu
Podes vir buscar-me?
Eu fui deixado aqui outra
vez
E perdi a chave
Vens ter comigo?
Se não vieres não
sei ir ter
Contigo
Inadmissivelmente Triste
As pessoas matam-se
As pessoas matam-se mesmo
Porque não vêem
futuro
Não vêem nada
de bom à sua frente
E isso é tão
triste
Isso é
inadmissivelmente triste
Enquanto se bebe cerveja
Há quem não
veja futuro à sua frente
Depois das trevas e do
renascimento
Chegámos a um novo
impasse civilizacional
E as escolhas que
escolhermos vão ser inócuas e inconsequentes
Não podemos fazer
nada porque vivemos em Portugal
E isso é tão
triste
Isso é
inadmissivelmente triste
Enquanto se bebe cerveja
Há quem não
veja futuro à sua frente
E isso é tão
triste
Isso é
inadmissivelmente triste
Enquanto se bebe cerveja
Há quem não
veja nada de bom à sua frente