quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Setembro - o disco

" Escrever um disco a descrever a minha vida 
  Como se não me quisesse afastar dela"



Já tinha pensado fazer um disco com as canções que andava a escrever, mas só quando o Henrique Amaro mo propôs, com data orçamento e tudo é que a empresa se pôs em marcha.
Comprei um pedal de efeitos para a minha guitarra que vinha com sistema operativo e placa de som, que me permitia finalmente gravar as ideias sem ser no telefone. Comecei então a deslocar o material que me ocupava a memória , até poder ter a coragem de ligar ao Henrique a dizer bora lá.
Um disco a solo é uma aventura de introspecção que me meteu medo durante muito tempo. Aliada à minha natural inépcia para tocar instrumentos , essa pesquisa parecia-me um sítio onde eu não queria ir. Depois pensei que era apenas um disco e não precisava de ser assim tão profundo.
Para me proteger, gravei as canções com baixo teclas e bateria de um modo tradicional que já conhecia, mas ao ouvir aquilo percebi que estava a fazer no fundo o que já tinha feito, mas sem a riqueza da contribuição de outros músicos. Já tinha as musicas mas procurava ainda a forma de as acabar. Conclui que era um disco a solo e como já estou farto de me chatear por causa de problemas de bandas e seus dilemas de egos, horários e manias (a maior parte deles causada provavelmente por mim), resolvi gravar tudo sozinho. Sem ter ninguém no estúdio para pedir conselhos,  tomando as minhas próprias decisões. O Henrique pôs-me à vontade para fazer artisticamente o que quisesse e fui para o campo fazer a pré- produção,  fase em que se decide a estética final das canções.
De todas as opções possíveis acabei por escolher na maior parte das vezes a primeira gravada no telefone, por mais tosca que fosse era a real. Acabei com uma forma muito simples em que muitos dos temas acabam por ter só uma guitarra tocada numa só corda durante a maior parte do tempo , enfatizando as letras e a mensagem.
Soube que o disco sairia em Setembro. Já tinha pensado assinar como 13 de Setembro em homenagem ao meu avô que quando desenhava assinava 13 de Maio , sua data de nascimento. O disco é um disco triste e melancólico, fim de verão e cor purpura.  Resolvi chama-lo Setembro.
A gravação com o Artur David em dez dias de Agosto correu bem.
Ía a pé para o estúdio e ele manteve-me fiel ao meu conceito original, não me permitindo grandes desvios em relação à pré-produção e mais importante(?), fazendo com que tudo soasse bem. O Artur foi muito importante no resultado final.
O disco começa com "Chama e Ouve" sobre escolhas de vida e falhas de comunicação. Gravei-a com a minha primeira guitarra acústica e com uma melódica do chinês. Convidei a brasileira Tiê para cantar a segunda voz mas ela nunca me respondeu, pelo que tive de cantá-la eu.
"No Meu Caminho" fala do efeito do nascimento de uma criança numa pessoa tempestuosa. O que era uma ideia escrita para alguém que não eu, a vida transformou numa das mais autobiográficas do disco...
"Sim ou Não" sobre a fragilidade de uma relação foi inspirada no Tom Waits e é a preferida da minha irmã, que é uma romântica.
"Luzia" era o nome da mãe e a minha canção preferida do disco.
"Falamos ao Longe" sobre o fim de verão e a melancolia da separação.
E outras coisas também. É difícil definir.
"Cidade Escura" lado mais b da existência de um espírito sensível.
"O Teu Namorado" , numa festa um amigo de um amigo que vive em Madrid elogia aquela dos MIUDA que vai para a cama com toda a gente, pensava que lhe faltava( ao projecto) uma dimensão lésbica. Concordei e escrevi para ser cantada por uma mulher, mas depois gostei demasiado dela.
"Nada a Dizer" era a que cantava sem me pedirem. Sempre senti que era a música da minha geração. Gravada a tocar e a cantar ao mesmo tempo.
" Inadmissivelmente Triste" quando ouvi na euronews a noticia gravei com o meu microfone. Depois nessa noite acrescentei tudo o resto voz guitarra e sintetizador. Em estúdio, decidimos  que não a poderíamos reproduzir melhor.
Foi um disco feito "à mão" e para a capa segui o mesmo conceito, tentando pintá-la ao mesmo tempo que o ouvia, tentando descrever as suas cores. Filmei o processo e devo ser dos primeiros a ter um vídeo do disco inteiro. Previsível  como o crepitar do fogo ou as nossas vidas.

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