quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Viver

As coisas como são. Os pelos brancos na barba, sou pai não tenho pai nem mãe. O Tejo, os barcos os carros muito devagarinho a atravessar a ponte, o café esquecido a ficar frio.
A luz filtrada de fim de Setembro e as imagens recorrentes de um passado não muito longínquo em que era apenas um filho.
Arrependimentos, porque não te levei a ver o mar uma ultima vez?
Sinto o coração amarrado por arame farpado, preso. Cada movimento provoca dor e estar quieto não ajuda.
As coisas como são. 
Às sete chega a Filipa com o António ao colo carregada de sacos e tenho de fazer o jantar e dar banho ao pequeno que já tem um dente e está meio refilão.
Enfiá-lo no pijama branco que o faz parecer uma bolinha sorridente e por momentos desamarrar o peito.
Esperar até às sete.
Ir comprar , por exemplo, um frango.
Respirar.
Viver.
Viver.

2 comentários:

  1. Excelente retrato de um estado que apenas o tempo ajuda a curar... Grande Abraço!

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  2. Sou mãe e tenho apenas mãe. O pai partiu (também sem ver o mar comigo uma ultima vez) num passado não mto longínquo... Podemos ser crianças (juntos) outra vez?!...

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